Fim de expediente no 15º Batalhão da Polícia Militar de Patos de Minas, interior de Minas Gerais. Sai a farda de sargento e entra o uniforme do treinador. Essa é a rotina dupla de Geraldo Magela Rodrigues, que comandará a URT na Série D do Campeonato Brasileiro. Dividindo as atenções com a preservação da ordem pública da cidade durante uma parte do dia e o comando técnico de um time de futebol na outra, Magela conduzirá uma equipe profissional pela primeira vez depois de anos de experiência no comando das categorias de base do clube - e detalhe: sem receber do clube para a função. Fã de Levir Culpi, Fernando Diniz e Jorge Sampaoli, ele diz que o futebol está ficando feio e acredita que jogar para frente é a melhor forma de surpreender.Em tempos de crise, Magela Rodrigues, nome usado quando veste a camisa da URT, é a solução caseira do time para economizar. Outra estratégia do clube é aproveitar os garotos do projeto realizado em parceria com o batalhão da PM da cidade. Quando termina o expediente nas ruas de Patos de Minas, o lado sargento fica em segundo plano. Mas na dose certa. Treinando a URT no período da tarde, Magela não se distancia da filosofia militar e garante que isso ajuda no seu trabalho como treinador.– A primeira coisa é a disciplina. Como militar, somos acostumados com a disciplina. Até para formação de um jogador é preciso dela. Não admito jogador em confusão extracampo, que se envolva em situações que atrapalhem a imagem do próprio atleta e do time. Outro ponto é: você, como PM, tem que solucionar problemas com muita rapidez. No futebol também é assim. Você tem que ser rápido e fazer tal ação com certa frieza. Você está sob pressão, os torcedores ali, e você tem que tomar uma decisão muito racional para o time – explicou.Além de policial militar há mais de duas décadas, Magela é profissional de educação física provisionado em futebol. Fez todos os cursos preparatórios para se tornar um treinador de futebol. Aos 46 anos, recebe sua primeira chance no profissional, e logo em uma competição como a Série D.A inspiração para montar seu esquema de jogo vem de treinadores como Fernando Diniz, passando pelo repaginado Levir Culpi, até chegar a Jorge Sampaoli. Futebol moderno, com visões diferenciadas de treino e de jogo. Sem essa de querer armar time para jogar na retranca, Magela diz que suas equipes têm outras mentalidades, justamente para surpreender.
Nosso futebol está ficando feio, todos jogam por uma bola. Não sou dessa filosofia de jogar atrás. Temos que criar mais oportunidades e criar um esquema que defenda lá na frente. Gosto de bolas lançadas em profundidade e de verticalizar a direção do jogo. Nosso time é muito novo, mesmo os outros times sendo jovens, temos que surpreender em alguma coisa, se não, não vamos longe na competição – analisou. Se o objetivo é mostrar serviço e não onerar o clube, Magela Rodrigues é o nome certo. Sem receber nenhum centavo para comandar a URT na Série D, o treinador sabe que a pressão será grande, mas garante estar preparado para isso. – A pressão é maior, com certeza. Na categoria de base, o público bom era de 600 pessoas, agora serão de mais de 2 mil pessoas. Todo mundo aqui acompanha o profissional. O que eu falo é que não virei um treinador, eu me preparei para ser um. Estudei, foquei em uma série de coisas: formato de treinamento, filosofia de jogo. A diretoria já me acompanha de perto pelo projeto e não sou remunerado, só se tiver premiação. Eu preciso primeiro mostrar para o que vim, para depois pensar em alguma coisa – finalizou o treinador.
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