O MÉDICO E A VIDA: UM GESTO DE AMOR! Ao Dr. Álvaro Andrade. 1º EDIÇÃO

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Manhã de segunda-feira. Por volta das 10:00h., chega ao hospital local D. Maria acompanhada de Gracinha, como era conhecida a sua filha Maria das Graças, de quatorze anos de idade. A mãe era o retrato da aflição. O olhar revelava tristeza, dor e desgosto profundos. Estava descontrolada. Agitada ao extremo. Chorava e aos gritos chamava pelo obstetra de plantão. Gracinha estava perturbada, atônita, confusa, quase sem ação. Deixava-se conduzir por sua genitora pelos corredores do nosocômio. Estava absorvida pelo medo e dominada pela fúria materna. Os enfermeiros que ali se encontravam buscavam acalmá-la, mas ela estava indócil. Conduzida à presença do plantonista e, de frente para dele, face a face, sem que houvesse qualquer diálogo, retirou da bolsa um escrito e o entregou dizendo-lhe: É urgente! O médico, à medida que lia o documento, sua expressão facial se transformava. Afinal, o que estava ali escrito ia de encontro aos seus princípios éticos e religiosos. Tratava-se de autorização judicial para retirada do feto. O conflito apoderou-se de seu ser. Não podia deixar de cumprir a determinação judicial e, por outro lado, se a cumprisse estaria a violentar sua consciência. Envolto nesse dilema, a insistência da genitora da adolescente na realização imediata do aborto, consumia-lhe a mente e lhe feria a alma. Buscando adiar a decisão, tentou acalmá-la pedindo que se sentasse. Enquanto isso, num cantinho do consultório, acomodava a adolescente numa maca para examiná-la. Voltando-se para a genitora, perguntou-lhe o que havia acontecido? Ela, então, debulhando-se em lágrimas, disse que a sua filha havia sido violentada pelo padrasto e que dele encontrava-se grávida. Disse-lhe, também, que o fato foi comunicado à autoridade policial e que ele se encontrava preso. Na justiça, confessou ele, despudoradamente, o mal que houvera feito, acrescentando que agiu sem o consentimento de sua enteada, desvirginando-a antes que outrem o fizesse. A horrenda confissão lhe arrancou do peito todo sentimento que por ele nutria. Foram conviver quando Gracinha contava com dois anos. Estavam juntos há cerca de dez anos, de cuja união nasceram dois filhos. Daí, o seu sofrimento, dor e mágoa. Após ouvir o relato, decidiu pelo cumprimento da ordem judicial. A menina chorava na maca. Instintivamente sabia que o seu filho ser-lhe-ia arrancado do ventre. Girando a cadeira na direção em que se encontrava a aflita menina, pensou consigo: “ É certo que a gestação decorreu de uma violência contra àquela menina, mas por que responsabilizar a criança que ela carrega em seu ventre por um crime que ela não cometeu? Voltou-se, então, para D. Maria e objetivando despersuadi-la, argumentou: Antes de dar início aos trabalhos, eu vou colocar uma música para a Senhora ouvir. É uma música única. É uma música que fala de Deus, do amor e da vida . Após ouvi-la, a Senhora irá me dizer se prossigo ou não, ok? Ela consentiu. Com suave ternura, pediu-lhe para fechar os olhos; relaxar e abrir a alma e espírito. Aproximou-se da menina e delicadamente pediu-lhe para ficar calma. Em seguida deu início ao exame de ultrassonografia, deixando o aparelho em vida voz … Alguns segundos depois, todos ouviram a música. Era mais ou menos assim: “ tum....tum....tum....tum....tum....tum....tum...tum....tum....tum.... tum... tum... tum...tum”... À medida que ouvia a melodia, o semblante da angustiada mãe se modificava, ficando mais leve … embora os olhos ainda estivessem fechados, lágrimas deslizavam mansamente no seu rosto... Alguns minutos se passaram e, ainda com o aparelho ligado, o médico esclareceu: “Essa música que a Senhora está a ouvir é o coração de seu neto ou neta a pulsar. Ela revela o amor e a bondade de Deus a oportunizar a um ser humano o dom vida”. Diga-me, então, desligo ou não a música? Sorrindo ternamente e com o rosto ainda molhado, ela respondeu: “meu neto não tem culpa. Deixe-o nascer”. Enternecido, abraçando-as, em silenciosa oração agradeceu a Deus por ter lhe permitido salvar mais uma vida.

Autor: Antonio Carlos de Souza Higyno
Juiz de Direito
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  1. maravilha de cronica da vida e tem mais sei disso, parabéns ao Dr Higyno conheço o legado dele

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  2. Muita linda essa crônica,perfeita.

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