Comecei assim. Primeiro as vogais a, e, i, o, u. Depois as consoantes. Depois ia juntando. Um b com a, bê-a-ba. Bola, pato, uva... Por ai se começava. Soletrando aprendi a ler, eu, e os do meu tempo. Não tinha familinha de letras, nem outro método, era soletrando assim. Não se dizia só as letras individualmente como se faz hoje. Era o mesmo tempo da prova dos nove, das contas feitas à mão, de escrever páginas e mais páginas no caderno quando se erravam as palavras. Mas voltemos ao soletrando. Prestem atenção. Então por exemplo. Bola se aprendia assim: bê-o-bo (bo), lê-a-la (la) bola. Uva era assim: u-vê-ava (uva). Coração se soletrava... Nem vou explicar. Fácil podia não ser, mas, depois de aprendido, era para sempre, fluía e flui até hoje. Depois se juntavam as palavras em frases. Vovó viu o ovo (ô frasezinha besta). Associar, no aprendizado, palavras às figuras, ou desenhos era muito comum. Esbarrei uma vez, em uma frase de letras e figuras, e, ainda hoje, muitos anos depois, conto tal fato com alegria folclórica. A frase era assim: papai foi à (e tinha em seguida o desenho de um pé). Eu comecei soletrando: pê-a-pa (pa), pê-ai-pai (pai) fê-oi-foi (foi) à... e me calava! Meu pai perguntava: que figura é essa filho? – E eu dizia: é um pé. – Então leia tudo. – E eu soletrava denovo: pê-a-pa (pa), pê-ai-pai (pai) fê-oi-foi (foi) à... e me calava denovo! Foi assim umas quatro vezes. – Que figura é essa menino? – e eu, já chorando: é um pééé! – Então leia! – E eu denovo... e ficava só nisso! Acho que o adesivo mental, para que eu ligasse a frase, com a figura, foi um puxão de orelha, dado pelo meu pai, que, com este gesto impaciente, me forneceu uma lembrança eterna, do fato, do seu amor pelo saber, e por nós filhos. Saber ler, fato que nos parece assim tão simples, é de uma importância máxima. Pergunte a quem não sabe. Sem saber ler, o homem é um aleijado. Seu espírito fica atrofiado e alheio. Seus horizontes limitados. Fica mais exposto aos perigos, mais pobre de cultura e de saber, e, o saber, é o único bem que o ladrão não lhe rouba. Me surpreendi e me alegrei quando Pedrinho, meu filho mais novo, quando tinha apenas quatro anos, leu pela primeira vez. Sorri de emoção... me lembro deste fato, e penso em quantos e quantos não tem esta riqueza. O habito da leitura, parece em declínio, substituído pela mídia rápida, que vomita informações a todo instante, complicando seus pensamentos. Hoje, alguns acham até, que ler é perder tempo, ler não faz falta, é suficiente a informação visual da televisão e semelhantes. Coitados. Eu digo que nada substitui a leitura, sozinho, deitado numa rede, dando asas a sua imaginação, podendo até sonhar. Lendo você pode tudo.
Postado: Blog do Claudio
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