Divertidíssima a entrevista concedida ao Estadão pela Ministra do STJ e Corregedora-Geral do CNJ, a baiana Eliana Calmon. Não foi daquelas entrevistas chatas e enfadonhas em que só se fala de direito, como se não existisse mais nada na vida do profissional da área jurídica. Além dos problemas vividos por conta de sua atitude aguerrida frente à luta pela limpeza na judiciário, a Dra. Eliana fala de família, separação, uma visita a um tarólogo paga por um subordinado e até de romances. Disse que além de seu ex-marido, quem lhe deu mais dor de cabeça foi o Supremo e que seu filho foi criado como filho da classe média: "ele nunca usou grife, só C&A"
Veja alguns trechos.
Falava-se muito que o ACM mandava na Justiça da Bahia. Tem fundamento?
Total. Ele mandava em tudo na Bahia, inclusive nos desembargadores, menos da Justiça Federal. O presidente do Tribunal Eleitoral chegava a dizer: 'O cabeça branca mandou decidir dessa forma'. Isso eu vivi, briguei e fiquei isolada.
Como sobreviveu?
Como tenho sobrevivido até hoje. Sou a marca dos desafios, né? Riam de mim. Mas sempre fui 'brigona'.
Casada com militar, quem mandava em casa?
Ele. Ah, não há quem consiga mandar mais que um militar (risos). Fiquei casada por 20 anos e tinha uma enxaqueca terrível. Fiz diversos tratamentos. Hoje eu digo que fiquei boa, mas não posso receitar o remédio: quando eu me separei, a enxaqueca foi embora. Impressionante. Depois do marido, só quem conseguiu me deixar com enxaqueca foi o Supremo Tribunal Federal. Mas meu ex foi um grande amigo. Sempre me entendeu, deixou que eu estudasse e trabalhasse. Eu fiquei casada por dez anos sem ter filho. Até que ele disse: 'Você pensa que casamento é bolsa de estudos? Não é, quero meu filho'. Eu não queria, sou da geração de Simone de Beauvoir. Ela dizia que a servidão da mulher é a maternidade e eu acreditava. Hoje tenho uma gratidão a ele, pois me tornei completa.
Foi dura como mãe?
Duríssima. Por exemplo, ele nunca usou grife, só C&A. Eu queria uma atitude classe média. Cresceu gente de bem. Brincávamos muito, ele se sentava junto de mim e enfiava o dedo no meu braço, brincando de dar injeção. Aí eu disse: 'No dia em que você passar no vestibular, vou ficar de calcinha e sutiã para você me dar injeção' (risos). O danado passou em primeiro lugar.
Namora?
Pouco. Para uma mulher como eu é difícil. Tenho uma personalidade muito forte, aí os homens que também têm não admiram, e homem fraco também não quero. Outro dia apareceu um advogado bem sucedido e disse ao meu motorista: 'O senhor sabe que vou casar com sua chefe?'. Quando o motorista me contou, perguntei: 'Eu quero saber, sr. Ferreira, o que o senhor acha?'. Ele disse: 'Ele não aguenta, não' (gargalhadas). Eu achei ótimo. Outro dia eu fui a um tarólogo, de tanto meu chefe de gabinete me atentar, chegou a pagar a consulta, disse que era o meu presente de aniversário. Aí, perguntei: 'Senhor Paulo, eu quero ver aí se vou me casar novamente'. Ele botou as cartas e disse: 'Ah, ministra, vai aparecer um homem bem corajoso' (gargalhadas). Eu brinco com o pessoal: 'Cadê o homem corajoso que até agora não apareceu?'.
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